Então Pilatos viu que não conseguia nada, e que o povo estava começando a se revoltar, mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão e disse:
- Eu não sou responsável pela morte deste homem, isso é com vocês. (Mt 27:24)
Desde então, diante de uma decisão que se quer postergar ou passar a outrem, a expressão “lavar as mãos” se eternizou. Uma maneira de se livrar do crivo do julgamento e não se desgastar com as partes envolvidas.
Foi assim que o Supremo Tribunal Federal (STF) se portou, na última quinta (19), no caso Cesare Battisti, transferindo para Lula a última palavra sobre a extradição do ex-guerrilheiro italiano.
As relações entre autoridades brasileiras e italianas vêm sendo nada amistosas, isto porque o ministro da Justiça do Brasil, Tarso Genro, tem declarado sua posição de não ser favorável à extradição de Battisti, declarando, em entrevista, que setores da sociedade e do governo da Itália reclamam o retorno de Battisti porque sofrem “influências fascistas”.
Isso pode ecoar como uma provocação e insulto, visto que, segundo os próprios italianos, o fascismo já foi varrido daquele país há muito tempo.
Prato cheio para os opositores de Tarso Genro que aproveitaram para jogar lenha na fogueira, salientando que o ministro não deveria ter insultado a Itália com esta pejorativa declaração e perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.
Na verdade, qualquer um tem direito de achar que Battisti deve ficar no Brasil, mas nunca agredir e arranhar uma relação diplomática construída solidamente durante décadas.
Aliás, que interesses pode haver de o Brasil querer manter mais um preso aqui em nossa carceragem já tão superlotada? Por que proteger assim uma pessoa que deve ao seu país? E se o Brasil necessitar de extradição da Itália para cá, como se comportará o ministro falastrão?
Teme-se que o presidente Lula, que tem agora a batata quente nas mãos, pense igual ao ministro da Justiça e queira dar hospitalidade a um criminoso em detrimento das relações entre os dois países.
E não pasmem se isso ocorrer, visto que Lula tem ações, no mínimo, polêmicas. Há pouco, recebeu a Autoridade Palestina e ainda fez comentários sobre as ações de Israel na faixa de Gaza. Semana que vem, receberá Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã. Ambos são autoridades maiores de países, no mínimo, suspeitos de serem protagonistas de atos repudiados pelo Ocidente, lado político em que o Brasil e seus aliados estão inseridos.
É certo que nos últimos tempos, o Brasil ganhou muita projeção na política de relações internacionais, isso porque, historicamente, nosso país é um Estado coerente que tem sabido calar e falar nas horas certas e, por isso, ganhou respeito, admiração e notoriedade.
Portanto as autoridades que administram o país precisam ter cuidado para que a imagem brasileira não seja arranhada, principalmente se for em benefício de pessoas que nada têm a oferecer ao país.